sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Todos nós sabemos que blog é um tipo de diário, porém um diário às avessas, pois sendo virtual ele perde suas principais características como a privacidade e o sentido de confessionário particular de si para si mesmo. E, apesar da exposição consentida, só conseguimos compartilhar os anseios e as desilusões do nosso cotidiano em parte. Pois na mesma proporção que se escancara a alma para o mundo, há uma tentativa quase inconsciente de se mascarar a realidade, por vezes dourando a pílula ao ousar dissertar sobre infortúnios pessoais, chegando-se outras vezes ao extremo de encarnar o papel de “Poliana” onde o tom da cor é puxado para o rosa. Tudo bem, até aí nada contra, afinal é o olhar que dá o tom; e depois, uma pitada de reserva aqui e ali é sempre bom para a autopreservação.

Entretanto - e talvez devido a um receio de passar a ideia de que estamos murmurando, de que somos complicados e até de não sermos “abençoados” - incorremos no erro de aderir a uma filosofia bastante sutil e cada vez mais usual, cujos princípios dizem que está todo mundo muito bem, que todo mundo é feliz e realizado. E, principalmente pelo medo de ser julgado, criamos uma capa protetora. Inclusive o próprio escritor nato já traz em si essa marca. Ele é um poeta da prosa e, como todo poeta, sonha sempre com dias melhores atenuando as dores do mundo em meio a um jogo de palavras muito bem elaborado, embalando corações ávidos pela realização desse mesmo sonho coletivo.

Na verdade, convenhamos... Quem acessa a net pra se lamentar, desabafar ou contar uma bronca que está passando? E quem quer saber? - É um saco, isso! – diriam os mais insensíveis. Ninguém acessa MSN e vendo que um fulaninho querido está conectado aproveita pra dizer que se desentendeu feio com o pai, a mãe, a tia, a avó, a irmã, o cunhado, o vizinho, o porteiro do prédio, o colega de trabalho. Em relação ao bate papo informal, ainda que se pertença à mesma tribo, via de regra o assunto é à base da trivialidade, da abobrinha, enfim,só jogando conversa fora. Pedir um conselho? Nem pensar! É todo mundo muito bem resolvido e auto afirmado. É só alegria, do tipo “então não me conte os seus problemas, hoje eu quero paz, eu quero amor” em um compartilhar veladamente autoritário e egoísta no qual o sentido de paz e de amor é totalmente distorcido. Sem falar da briga silenciosa de egos cada vez mais acirrada na “blogosfera cristã”. Não é necessário muita perspicácia para se perceber essa frequência nas estratégias usadas pela supervalorização do número de seguidores, nos textos escolhidos e nos comentários de blogs.

E tudo isso se reflete nas relações fora da web de forma cada vez mais assustadora. E vice versa.

Falo isso sem medo de ser julgada e confesso que o que me estimulou a expor essa minha ânsia foi uma conversa informal aqui e ali com algumas pessoas que captaram o mesmo que eu. Pessoas tão normais quanto eu; pois, longe de sermos amargurados, somos gente que ri, que brinca, que até não leva os dramas da vida tão a sério, que se assume como gente falha e cheia de defeitos, porém gente valente que batalha. E não em uma batalha a ferro e fogo, com unhas e dentes, mas a velha batalha para a qual se vê preparada diariamente e na qual se rema contra a maré, paradoxalmente serena e na paz que excede o entendimento. É como muitas vezes se encontra nossa alma: na paz, embora triste e perplexa. Triste e perplexa, porém jamais angustiada e desanimada. Posto que na luta!

O certo é que, devido a vícios e crendices culturais e religiosos, demora um pouco para se entender que não se trata de uma luta mística e que não há setas ou escudo invisíveis; que é uma luta bem real do nosso cotidiano e sua base reside nos pensamentos que impulsionam as ações de todos à nossa volta. E, claro, que tem “alguém” minando tais pensamentos. Usando de mentiras sórdidas e de falsas verdades, nosso adversário nos coloca em conflito tentando sugar nossas forças e, assim, nos abater com pensamentos que nos enfraquecem a fé.

Com argumentos que semeiam o mal entendido que vai gerar a dúvida, a discórdia e até grandes rupturas, o inimigo de nossas vidas quer nos afastar de Deus e das pessoas. Essa é sua missão em oposição ferrenha ao plano de Deus. Essas são as “forças espirituais do mal”. Daí ser uma batalha espiritual. E a batalha é espiritual, porém todo o conflito é no campo das ideias, do intelecto, da mente; com seus conceitos, princípios e valores, e todo um fascínio dirigido aos projetos e realizações pessoais.

Enfim, é claro que é importante saber acerca do caráter e da obra do nosso adversário, mas acima de tudo, devemos guardar em mente que ele está debaixo do controle soberano de Deus e que ele pode ser um meio pelo qual Deus realize alguns dos Seus propósitos, aniquilando suas investidas em momento oportuno.

Portanto, por mais que estejamos nos desentendendo, nos afastando uns dos outros, caindo nas armadilhas sórdidas daquele que é repulsivo e essencialmente mau, sabemos que temos a Quem recorrer. E, quando nos humilhamos em Sua presença, em demonstração de completa dependência Ele nos exalta, concedendo Sua GRAÇA.


“Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.

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